Vitória da Conquista: A Cidade Sem Cultura
Vitória da Conquista é a terceira maior cidade da Bahia em número de habitantes (370 mil, de acordo com o Censo de 2022). A Bahia, por sua vez, é o maior estado do Nordeste. Mas como pode a terceira maior cidade do maior estado nordestino não ter cultura? Ou melhor: qual é, afinal, a cultura de Conquista?
Vitória da Conquista foi mais uma das cidades fundadas sobre o sangue dos povos originários, vítimas do genocídio promovido pelos colonizadores. Desde então, tem sido governada por famílias historicamente ligadas aos bandeirantes — mais especificamente aos descendentes de João Gonçalves da Costa, figura central na fundação da cidade. Curiosamente, ele é antepassado de nomes consagrados como Glauber Rocha e Elomar, artistas de enorme relevância para a cidade.
A partir desse contexto histórico, o futuro de Vitória da Conquista parece ter sido traçado de forma trágica. É uma cidade que exclui a cultura popular, que manipula sua história através de recortes convenientes, apagando a face violenta de sua origem. Governada por elites tradicionais que insistem em manter o status quo, Conquista se apresenta como perfeita apenas para quem habita seus bairros privilegiados. Enquanto isso, o restante da população permanece à margem, sem acesso a políticas públicas culturais e relegado aos piores empregos.
Qualquer tentativa de mobilização popular é rapidamente sufocada pela repressão, pois as forças de segurança parecem existir mais como ferramentas de controle do que como garantia de direitos.
Nos bairros periféricos e nos subúrbios da cidade — onde a iluminação e a segurança da Olívia Flores não chegam —, imperam a violência e o abandono. É cada um por si, e a solidariedade é a única salvação possível. Quase 400 mil habitantes e nenhum evento cultural público. A cidade se autoproclama grande, mas nela não existe vida coletiva, não há pulsação cultural para além do circuito das elites.
Existe apenas uma UPA para atender toda a população — lotada, sucateada, palco de denúncias e tragédias. Muitas pessoas já perderam a vida esperando por atendimento. As escolas públicas, por sua vez, estão cheias de jovens sem perspectiva. E como sonhar com um futuro quando o presente é tão árido? Em Vitória da Conquista, a não ser que você tenha sobrenome ou herança, a cidade tenta te apagar — reduzir sua existência a um número, a uma estatística a serviço da engrenagem que sustenta o sistema.
E, diante disso tudo, a população segue à espera de uma salvação que nunca veio — e talvez nunca venha — de cima. Numa terra onde ser oposição ao governo pode custar a vida, enquanto não houver um movimento radical contra a raiz autoritária e excludente da cidade, nada mudará.
Este é apenas um primeiro passo.
Palavras.
Escrito por: Rafael Silva de Oliveira
Revisado por: Raynara Michelle Oliveira Rodrigues

Concordo tanto que sai da cidade pra buscar cultura em outro lugar, eu cresci a margem social buscando formas de respirar arte e cultura de alguma maneira ou tentar ver expectativas de um dia ser um grande artista que sobreviva de arte, precisei vim pra SP pra isso, essa cidade só vai dar valor quando a gente mostrar algum tipo de retorno em boa reputação pra eles, se for depender de mim não vão ter a não ser que falem da música eletrônica periférica brasileira vulgo meu funk queer e engolir.
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